Leonardo Sbaraglia em "Plata Quemada" |
"Esperar. A maior parte do tempo, a gente tem de esperar. Esperar o momento do assalto, esperar que passe a febre de te procurar. Esperar para pegar a grana... O tempo é algo que te esgota. Uma batalha perdida. É como estar na prisão, você se pergunta como preencher o tempo.
Com o corpo você não pode contar... Você não pode transar, não pode chorar... Eles te vigiam, ficam em cima. Só resta a cabeça. E você pensa - bobagens - mas você pensa.
Se eu tivesse que explicar tudo o que pensei enquanto estava preso... levaria o mesmo tempo que passei na prisão. Você imagina coisas. Imagina o que perdeu. O que ficou de fora quando a sua vida foi suspensa.
Um assalto, passo a passo... uma e outra vez, como num filme. A construção de uma casa, tijolo por tijolo. Uma mulher, os detalhes do encontro... palavras, movimentos, cores. Você vive na cabeça, você se converte nisso... em uma cabeça, em um crânio.
Na prisão, virei bicha, viciado, peronista, aprendi a brigar, a jogar xadrez, a bater em quem me olhava torto, a fazer figurinhas com o papel prateado do cigarro, a transar parado, a perder-me num livro e quase não voltar. E continuei construindo casas na minha cabeça... para então dinamitá-las."
"Plata Quemada", Marcelo Piñeyro.
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